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terça-feira, novembro 25, 2003

Nelson Goodman 

Há uma versão de mundo que é, ou vai sendo, construída pela filosofia. Em Needham, Massachusetts, Nelson Goodman deixou-nos em herança a obrigação e a necessidade de permanentemente reconstruirmos o mundo através da mais nobre das actividades: o pensar. Tinha 92 anos e, há já cinco, o mundo perdeu uma das mais brilhantes mentes do século XX. Brilhante na criatividade, no trabalho, no rigor, na carreira. Uma mente «emérita». A Nelson Goodman ficamos a dever algumas das mais interessantes questões que a filosofia - o pensamento - tem por resolver. Questões rigorosas, severas, até. Ou talvez apenas escrupulosas, retomando as próprias palavras do autor: Podeis não concordar com alguns destes escrúpulos e protestar que existem mais coisas no céu e na terra do que sonha a minha filosofia. Eu preocupo-me mais com que a minha filosofia não sonhe com mais coisas do que as que existem no céu e na terra» (1). Na inteligência e elegância da escrita (2), a delimitação do campo exacto da filosofia. A propósito de uma obra (3), Goodman esclarece o próprio programa filosófico, que não segue «um percurso rectilíneo do princípio ao fim». «Ele caça; e na caçada, por vezes inquieta o mesmo guaxinim* em árvores diferentes, ou guaxinins diferentes na mesma árvore, ou mesmo o que mostra não ser nenhum guaxinim em nenhuma árvore. Encontra-se em si próprio empancando mais de uma vez na mesma barreira e partindo para outros caminhos. Bebe frequentemente das mesmas correntes, e dá passos em falso em territórios difíceis. E contam não as presas caçadas mas o que se aprendeu do território explorado».
Nelson Goodman morreu há cinco anos. Aquele que, no dizer de Hilary Putnam, «em cada conversa, borbulhava de ideias. (4)
A Nelson Goodman devo o prazer de algumas das minhas melhores reflexões.

(1) Facto, Ficção e Previsão, Presença, 1991, pp 55
(2) Alusão a Shakespeare, Hamlet, I, v. 166: «There are more things in heaven and earth, Horatio, than are dremed of in your philosophy»
(3) Modos de Fazer Mundos, Asa, pp. 33
(4) in Harvard University Gazette, 3/12/1998
* espécie de raposa que se alimenta de caranguejos

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