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quinta-feira, setembro 11, 2003

Allende por Neruda 

«Escrevo estas rápidas linhas para as minhas memórias apenas três dias passados sobre os factos inqualificáveis que levaram à morte o meu grande camarada: o presidente Allende. O seu assassinato foi mantido em silêncio. Foi sepultado secretamente. Só a sua viúva teve licença para acompanhar aquele cadáver imortal. A versão dos agressores é que encontraram o seu corpo inerte, com sinais evidentes de suicídio. A versão publicada no estrangeiro é diferente. Após a acção de bombardeamento aéreo, entraram em acção os tanques, muitos tanques, lutando intrepidamente contra um único homem: o presidente da República do Chile, Salvador Allende, que os aguardava no seu gabinete, sem outra companhia além de um grande coração, envolto em fumo e chamas.
Havia que aproveitar tão bela ocasião. Era preciso metralhá-lo - porque ele jamais renunciaria ao cargo. Aquele corpo foi enterrado secretamente num sítio qualquer. Aquele cadáver que foi para a sepultura acompanhado por uma única mulher, que carregava consigo toda a dor do mundo, aquela gloriosa figura morta, ía cravada e despedaçada pelas balas das metralhadoras dos soldados do Chile, que mais uma vez tinham atraiçoado o Chile.»

Pablo Neruda, in Confesso que Vivi

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